Há palavras bem mais difíceis de dizer do que adeus.
Palavras como amo-te, desculpa...
Mas neste dia de sol, ao observar o seu cão a receber a injecção letal (metal, irreal), Armando sentia essa palavra como ecos duma explosão interior, cada onda de choque carregando mais memórias do que a anterior, níveis de inferno mais e mais ruidosos, mais e mais profundos, peças de história que numa deflagração por demasiado tempo reprimida da folha do consciente, o banhavam agora de graça divina, ao mesmo tempo que dilaceravam à passagem os frágeis pilares da sua sanidade.
Armando não disse adeus, e como o seu querido cão mesmo antes de fechar os olhos percebeu, essa decisão significava que em breve o voltaria a ver.
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Osvaldo perdia-se na musicalidade das palavras, na poesia íntima das evocações fonéticas, na filigrana emocional que dentro de si compunham, e assim largado ao pueril poder do deslumbre sintático, preguiçosamente boicotava os sempiternos sonhos de construir a catedral da sua própria transcendência. Perdido de amores pelo martelo, esquecia o edificio.
Lia Vergilio Ferreira para entender,
e por seu intermédio,
da condição de mestre construtor de castelos na areia
ascender.